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Tomás Rosa Bueno
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Criados mudos e falantes May 2, 2006

Gabriela Frazao wrote:


Por cá, fazemos um "encolher de ombros" ou seja "tanto faz"... mas não temos uma expressão específica - fazemos o gesto!

E, assim, nos vamos entendendo...

Uma curiosa : é o tal "criado mudo" que poucos portugueses conhecem

Gabriela


Por aqui também se encolhem os ombros. Mas o substantivo que expressa a a(c)ção é "dar de ombros", vá-se lá saber por que cargas d'água.

O criado-mudo é perfeito. Traz-nos tudo de que podemos precisar durante a noite e não pia, fica ali quieto, sempre a postos. Perto de um criado-mudo, uma mera mesa de cabeceira fica um tanto prosaica, não?

Tomás


 
Ivana de Sousa Santos
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A minha primeira resposta May 2, 2006

Não sei se vou conseguir lembrar-me de tudo o que tinha escrito, mas aqui vão as linhas gerais:

Antes de eu saber o que queria dizer "hacker" já conhecia a palavra "pirata informatico".

Agora, se o termo "hacker" é utilizado em português? Sim, é! Infelizmente, na minha opinião, é uma realidade. Felizmente, por outro lado, no google são apenas apresentadas 193 ocorrências em páginas de Portugal, contra 221.000 em português.

A língua evolui mas s
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Não sei se vou conseguir lembrar-me de tudo o que tinha escrito, mas aqui vão as linhas gerais:

Antes de eu saber o que queria dizer "hacker" já conhecia a palavra "pirata informatico".

Agora, se o termo "hacker" é utilizado em português? Sim, é! Infelizmente, na minha opinião, é uma realidade. Felizmente, por outro lado, no google são apenas apresentadas 193 ocorrências em páginas de Portugal, contra 221.000 em português.

A língua evolui mas se permitirmos que os neologismos ingleses venham dar lugar a palavras que entram na língua portuguesa por via do "aportuguesamento" a nossa identidade cultural também se vai perdendo.

É certo que os neologismos e os estrangeirismos fazem parte da evolução de uma língua, mas deveremos permitir que aconteça de modo tão flagrante e sistemático? A minha opinião é NÃO! Sobretudo por nós, que somos tradutores e que devemos impedir isso.

Todos utilizamos as palavras "e-mail" e "site". Rara é a pessoa que diz "dá-me o teu enderço de correio electrónico" ou "fui ao sítio XXX ver isto e aquilo", eu própria não o digo. Mas em tempos fui "corrigida" numa tradução que fiz (e onde deixei ficar "e-mail" e "site") por uma pessoa com mais experiência do que eu e que me disse uma coisa muito sábia e que, embora não me recorde das palavras exactas, foi o seguinte (não vou mencionar o nome, mas essa pessoa sabe quem é): devemos ser nós tradutores a ensinar ao público em geral e, sobretudo, à nova geração (crianças que começam a ter contacto com o mundo dos computadores e da Internet), que há palavras na língua portuguesa para designar termos que são correntemente utilizados em inglês.

Refleti depois essas palavras e não posso deixar de concordar plenamente, sobretudo no rasmo que é a informática onde tudo evolui rapidamente. O que será da nossa língua se o meu filho daqui a uns anos vier a dizer "mãe, fui ao site do meu e-mail e fui hackeado". Isto soa a português? Não! Não para mim e não para muitas pessoas. E este é apenas um exemplo utilizado com o termo em análise neste fórum porque existem muitos mais.

Não podemos começar a pegar em termos estrangeiros e aportuguesá-los só porque nos dá jeito e não queremos ter o trabalho de sequer querer pensar que termo se adaptaria a esse na nossa língua, ou se já há (como no caso de "pirata informático") um termo em português. Ou seja, não é porque alguns emigrantes chegam a Portugal a utilizar o termo "pubela", porque estão habituados a utilizá-lo num pais francófono enquanto "poubelle" e o aportuguesaram, que erroneamente vamos passar a utilizar o termo "pubela" na nossa língua para designarmos o caixote do lixo (atenção, não é crítica nenhuma aos emigrantes; também já o fui e sei o quanto somos influenciados por outra língua quando nos encontramos no país em que é falada; a minha maior bacurada foi "reflechi no assunto e...", mas felizmente tive quem me chamasse a atenção e me impedisse de continuar a falar sob a influência do francês).

Por outro lado, falando em termos de linguística (que também tive na minha formação académica), o significante e o significado de uma palavra são aleatórios. Ou seja, convencionou-se chamar "cadeira" à cadeira porque foi o termo que na altura melhor pareceu ser adequado.

Portanto, chamar "pirata INFORMÁTICO" (não apenas "pirata") a um "hacker" (termo inglês), foi o significado que em Português se deu a este significante, apesar de "pirata" ja existir noutro contexto.

Se pesquisarmos o termo "pirata informático" no Eurodicautom (que sendo um site da União Europeia sempre tem mais credibilidade do que o google) a resposta é "pirata informático".

No Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, se pesquisarmos por "hacker" nada aparece, nem por "pirata informático", mas a consulta talvez mereça ser feita.

Em tempos traduzi um site (de francês para português) conjuntamente com outra tradutora e apareceu-nos os termos "chat" que traduzimos por "chat" porque que saibamos ainda não existe o termo definido para tal realidade e é muito utilizado, mas depois discordámos da tradução de "chatter", que eu dizia traduzir-se por "conversar" e a outra tradutora por "chatar" porque já era veiculado. O site destinava-se a camadas jovens e apesar de encontrar referências para "chatar" no google não fiquei contente. Telefonei a uns primos adolescentes perguntando-lhes o que iam fazer a um chat (não querendo influenciá-los com o termo "conversar" ou "chatar" não os mencionei). As respostas foram, além de "conhecer pessoas", etc., "conversar". Quando perguntei "e chatar, não?", perguntaram-me "cha o quê prima?".

Fiquei contente por os jovens (idades compreendidas entre os 13-16 anos) não utilizarem "chatar". Ao confrontar a outra tradutora com este facto concordámos que iríamos então utilizar "conversar" e assim foi.

No entanto, escrevi para o "Ciberdúvidas" para perguntar a opinião deles e poderão ver a resposta em http://ciberduvidas.sapo.pt/php/resposta.php?id=17132&palavras=chatar

Não concordo com a resposta de acordo com o que já mencionei acima, sobretudo porque também não é utilizado pela camada jovem e estamos assim a tentar impor essa realidade na língua.

Por alguma razão existimos enquanto tradutores: para veicularmos a língua portuguesa da maneira mais correcta para que pessoas sem conhecimentos de linguas estrangeiras não caiam no erro de utilizarem estrangeirismos incorrectamente.

Dizia ainda na minha primeira resposta que há uma nova(?) possibilidade neste site (sítio... é mais forte do que eu a utilização de "site", apesar de agora traduzir sempre por "sítio") que é "contribute to this entry" nos Kudoz. Podemos contribuir dando a nossa opinião (ou apenas a indicação deste fio específico) na pergunta feita pela colega e que desencadeou esta "discussão" (no sentido de conversa... Como se pode ver por aqui, a língua portuguesa - "muito traiçoeira" como dizia o outro - não se limita a um significado para um significante e esta palavra tanto pode ter um sentido positivo como negativo, assim como "pirata", que em tempos remotos pilhava coisas e hoje em dia tem um novo significado na língua portuguesa, não muito distante do original porque tambem faz "pilhagens" sem o consentimento de outrém que os teme e que por isso se protege, com anti-vírus, etc.).

E acho que foi esta ideia que me levou depois a escrever a minha 2ª intervenção pois carreguei numa tecla qualquer e o que tinha escrito desapareceu.

Alem disso, ainda bem que a nossa moderadora regressou de férias (bem vinda de volta, Gabriela!) para pôr "ordem na barraca" ("portuguesmente" falando). Quando vi este fórum inicialmente não gostei do rumo que estava a tomar, pois não se trata de como se fala em Portugal, em Angola, no Brasil ou em qualquer outro país lusófono; o inglês, o francês, etc., também têm as suas variantes geográficas, mas não podemos dizer que algo é assim por ser utilizado por uma certa camada da população a quem nós, tradutores, e sublinho uma vez mais, devemos ensinar a falar bem e não com estrangeirismos que são mais fáceis de utilizar e empobrecem a língua. Ela já é tão mal utilizada e "assassinada" que dá pena ouvir. Enquanto tradutora/linguísta/professora de Português, sinto-me na obrigação de corrigir estes, digamos (e na minha opinião, que não é humilde nem modesta, é apenas uma opinião como tantas outras), "barbarismos".

Para fundamentar a minha opinião com alguma literatura (já agora vou buscá-lo), gostaria ainda de citar o "Prontuário Ortográfico e Moderno" da Língua Portuguesa no seu capítulo "LINGUAGEM":

"PUREZA DA LINGUAGEM:
A lingua é pura ou vernácula quando o seu léxico e construções sintácticas são genuinamente nacionais e autorizados PELOS QUE BEM FALAM OU ESCREVEM, desde os grandes mestres até à chamada linguagem popular. Portanto, devem ler-se os grandes mestres e ouvir a voz do povo, sobretudo pessoas que sabem falar com grande objectividade e expressividade, como acontece por vezes com pessoas idosas que se encontram na província. Atenção, porque ter estudos não significa que não se saiba falar português de boa qualidade e expressivo.

Considera-se BARBARISMO tudo quanto se desvie da linguagem vernácula e corrente.

Os vícios que desvirtuam a boa linguagem portuguesa são vários, podendo apontar-se como principais:

1 - ESTRANGEIRISMOS
Uso de palavras ou construções frásicas próprias de linguas estrangeiras e quie se consideram DESNECESSARIAS dentro do português.
(...)

2 - NEOLOGISMOS
Um segundo vício pode ser constituído pelo uso injustificado e imoderado de neologismos onde não estejam autorizados pelos vocabulários oficiais e pela linguagem corrente. (...) os brasileiros, embora às vezes abusem fazendo degenerar a lingua portuguesa, são muito mais práticos e não têm problemas em dizer, por exemplo "esnobe" (...) enquanto nós, portugueses de Portugal, hesitamos e oscilamos na adaptação das novas palavras estrangeiras que entram, queiramos ou não, no nosso vocabulário do dia-a-dia. (...)"

Daí que as palavras "ráquer", "raquear" ou "raqueado" MUITO dificilmente entrarão na língua portuguesa de Portugal, até porque não aspiramos o "h" como se fosse "r", do mesmo modo que não dizemos "esnobe" porque não pronunciamos assim o "S", muito menos "háquer", "haquear" ou "haqueado", sobretudo por serem palavras desnecessárias, uma vez que temos sinónimos na nossa língua.

Uma curiosidade só para terminar (se é que a esta hora já não estarão a dormir com a minha opinião): o meu marido é técnico de informática, de modo que quando tenho uma tradução nesse ramo lhe pergunto imensas coisas. A resposta dele muitas vezes para a maior parte dos termos é "nós em informática dizemos XXX (normalmente a palavra inglesa que lhe pergunto) mas isso quer dizer XXX". Ou seja, os próprios informáticos têm a preocupação e o cuidado de não veicularem os termos em inglês. E, de acordo com o meu "expert cá de casa", "hacker" não se utiliza no meio deles, mas sim "pirata informático".

Um abraço a todos,
Ivana

P.S. - Desta vez sim, consegui não apagar tudo! :0)
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Mariana Moreira
Mariana Moreira
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Parabéns Ivana May 3, 2006

Ivana, depois de ler a sua contribuição não posso deixar de lhe dar os meus parabéns pois não poderia reflectir melhor a minha opinião:)

 
António Ribeiro
António Ribeiro  Identity Verified
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Excelente resposta. May 8, 2006

Ivana de Sousa Santos wrote:

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A língua evolui mas se permitirmos que os neologismos ingleses venham dar lugar a palavras que entram na língua portuguesa por via do "aportuguesamento" a nossa identidade cultural também se vai perdendo.

É certo que os neologismos e os estrangeirismos fazem parte da evolução de uma língua, mas deveremos permitir que aconteça de modo tão flagrante e sistemático? A minha opinião é NÃO! Sobretudo por nós, que somos tradutores e que devemos impedir isso.

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Não podemos começar a pegar em termos estrangeiros e aportuguesá-los só porque nos dá jeito e não queremos ter o trabalho de sequer querer pensar que termo se adaptaria a esse na nossa língua, ou se já há (como no caso de "pirata informático") um termo em português.

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Portanto, chamar "pirata INFORMÁTICO" (não apenas "pirata") a um "hacker" (termo inglês), foi o significado que em Português se deu a este significante, apesar de "pirata" ja existir noutro contexto.

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Como se pode ver por aqui, a língua portuguesa - "muito traiçoeira" como dizia o outro - não se limita a um significado para um significante e esta palavra tanto pode ter um sentido positivo como negativo, assim como "pirata", que em tempos remotos pilhava coisas e hoje em dia tem um novo significado na língua portuguesa, não muito distante do original porque tambem faz "pilhagens" sem o consentimento de outrém que os teme e que por isso se protege, com anti-vírus, etc.).

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mas não podemos dizer que algo é assim por ser utilizado por uma certa camada da população a quem nós, tradutores, e sublinho uma vez mais, devemos ensinar a falar bem e não com estrangeirismos que são mais fáceis de utilizar e empobrecem a língua. Ela já é tão mal utilizada e "assassinada" que dá pena ouvir. Enquanto tradutora/linguísta/professora de Português, sinto-me na obrigação de corrigir estes, digamos (e na minha opinião, que não é humilde nem modesta, é apenas uma opinião como tantas outras), "barbarismos".

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"PUREZA DA LINGUAGEM:
A lingua é pura ou vernácula quando o seu léxico e construções sintácticas são genuinamente nacionais e autorizados PELOS QUE BEM FALAM OU ESCREVEM, desde os grandes mestres até à chamada linguagem popular.

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Considera-se BARBARISMO tudo quanto se desvie da linguagem vernácula e corrente.

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Obrigado Ivana por esta resposta tão boa e tão bem escrita em PORTUGUÊS. Pena é que não tenha havido ninguém a defender linguisticamente o outro ponto de vista.

António


 
Jorge Freire
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Que fantástica resposta Ivana! May 13, 2006

A tua resposta devia ser arquivada nos documentos importantes da área das traduções. Estive bastante tempo sem voltar a este tópico e hoje fui surpreendido com esta demonstração de filosofia da tradução. Fiquei mais rico depois de a ler. Parabéns!

 
María Leonor Acevedo-Miranda
María Leonor Acevedo-Miranda  Identity Verified
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Ivana - FANTÁSTICA !!!! May 13, 2006

Só para te dizer que fica nos anais do forum de Português...

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A língua evolui mas se permitirmos que os neologismos ingleses venham dar lugar a palavras que entram na língua portuguesa por via do "aportuguesamento" a nossa identidade cultural também se vai perdendo.

É certo que os neologismos e os estrangeirismos fazem parte da evolução de uma língua, mas deveremos permitir que aconteça de modo tão flagrante e sistemático? A minha opinião é
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Só para te dizer que fica nos anais do forum de Português...

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A língua evolui mas se permitirmos que os neologismos ingleses venham dar lugar a palavras que entram na língua portuguesa por via do "aportuguesamento" a nossa identidade cultural também se vai perdendo.

É certo que os neologismos e os estrangeirismos fazem parte da evolução de uma língua, mas deveremos permitir que aconteça de modo tão flagrante e sistemático? A minha opinião é NÃO! Sobretudo por nós, que somos tradutores e que devemos impedir isso.

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Não podemos começar a pegar em termos estrangeiros e aportuguesá-los só porque nos dá jeito e não queremos ter o trabalho de sequer querer pensar que termo se adaptaria a esse na nossa língua, ou se já há (como no caso de "pirata informático") um termo em português.

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Portanto, chamar "pirata INFORMÁTICO" (não apenas "pirata") a um "hacker" (termo inglês), foi o significado que em Português se deu a este significante, apesar de "pirata" ja existir noutro contexto.

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Como se pode ver por aqui, a língua portuguesa - "muito traiçoeira" como dizia o outro - não se limita a um significado para um significante e esta palavra tanto pode ter um sentido positivo como negativo, assim como "pirata", que em tempos remotos pilhava coisas e hoje em dia tem um novo significado na língua portuguesa, não muito distante do original porque tambem faz "pilhagens" sem o consentimento de outrém que os teme e que por isso se protege, com anti-vírus, etc.).

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mas não podemos dizer que algo é assim por ser utilizado por uma certa camada da população a quem nós, tradutores, e sublinho uma vez mais, devemos ensinar a falar bem e não com estrangeirismos que são mais fáceis de utilizar e empobrecem a língua. Ela já é tão mal utilizada e "assassinada" que dá pena ouvir. Enquanto tradutora/linguísta/professora de Português, sinto-me na obrigação de corrigir estes, digamos (e na minha opinião, que não é humilde nem modesta, é apenas uma opinião como tantas outras), "barbarismos".

...

"PUREZA DA LINGUAGEM:
A lingua é pura ou vernácula quando o seu léxico e construções sintácticas são genuinamente nacionais e autorizados PELOS QUE BEM FALAM OU ESCREVEM, desde os grandes mestres até à chamada linguagem popular.

...

Considera-se BARBARISMO tudo quanto se desvie da linguagem vernácula e corrente.

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Obrigado Ivana por esta resposta tão boa e tão bem escrita em PORTUGUÊS. Pena é que não tenha havido ninguém a defender linguisticamente o outro ponto de vista.

António [/quote]
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Marina Oliveira
Marina Oliveira  Identity Verified
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Excelente comentário, Ivana! May 13, 2006

Ivana de Sousa Santos wrote:

...apareceu-nos os termos "chat" que traduzimos por "chat" porque que saibamos ainda não existe o termo definido para tal realidade e é muito utilizado, mas depois discordámos da tradução de "chatter", que eu dizia traduzir-se por "conversar" e a outra tradutora por "chatar" porque já era veiculado. (...)Telefonei a uns primos adolescentes perguntando-lhes o que iam fazer a um chat (não querendo influenciá-los com o termo "conversar" ou "chatar" não os mencionei). As respostas foram, além de "conhecer pessoas", etc., "conversar". Quando perguntei "e chatar, não?", perguntaram-me "cha o quê prima?".

Fiquei contente por os jovens (idades compreendidas entre os 13-16 anos) não utilizarem "chatar". Ao confrontar a outra tradutora com este facto concordámos que iríamos então utilizar "conversar" e assim foi.

No entanto, escrevi para o "Ciberdúvidas" para perguntar a opinião deles (...)

Não concordo com a resposta (...) e estamos assim a tentar impor essa realidade na língua.



Foram muitos os parabéns à resposta da Ivana e não posso deixar de me juntar a eles. À medida que ia lendo este fio (espectacular: vejo que pelo menos "trede" ainda(!) não foi adoptado) ia-se esboçando um comentário na minha mente que entretanto ficou sem efeito, pois a Ivana traduziu por palavras tudo o que pensei sobre o assunto, incluindo o excerto que citei.

Desde que uma estimada colega me apontou a questão no Ciberdúvidas, tenho andado a remoer o"chatar" sem, porém, o conseguir engolir. O Ciber, em prol do qual muitos de nós nos juntámos na petição contra o encerramento, nesta questão desiludiu-me. Havendo uma palavra na nossa língua para "chat" porque não usá-la? "A mensagem que [chatar] veícula não cabe no verbo conversar" dizem eles. Não sei que mensagem será.

A minha "costela" linguística diz-me que a língua deve ser encarada como um sistema vivo e dinâmico, aberto à evolução. Mas o objectivo deste sistema ou código é comunicar e se as regras do código forem sistemática e abusivamente quebradas, o sistema corre o risco de não funcionar e ser até contra-produtivo para a comunicação.

Se bem que compreendo a distinção feita pelo Tomás entre hacker e pirata (no sentido mais antigo do termo), a verdade é que a Ivana pôs o dedo na ferida: o signo é arbitrário, se convencionarmos que "pirata informático" significa "aquele que penetra em redes informáticas sem a devida permissão", qual arrombador da propriedade privada, então "hacker" não tem razão de ser. Pelo menos em português de Portugal ou Europeu. Deverá haver distinção entre a invasão pura e simples e o roubo? Há uns anos, a minha casa foi arrombada. Revolveram algumas gavetas e ficou uma pegada na parede. Até hoje não sei se me roubaram mais alguma coisa, para além de um isqueiro barato. De qualquer forma, com roubo ou sem roubo, este criminoso será sempre um "arrombador". Se é necessário um outro termo para distinguir "invasão" de "roubo" informático, porque não procurá-lo dentro da língua? Além disso, "pirate" existe no inglês, mas eles usam-no para significar roubo informático, fazendo a mesma distinção? Desconheço. Será que temos sempre de traduzir os termos do inglês e não temos liberdade para adoptar outros?

Para finalizar esta já longa prelecção, apesar de o sentido remoto de "pirata/piratear" ser o roubo, o seu uso ligado à informática veícula fundamentalmente a ideia de ilegalidade, como é o caso de "material pirateado", em que não existe roubo propriamente dito, mas a acção ilegal de evasão aos direitos de autor. E é o uso generalizado que transforma a língua (e não uma mão-cheia de ocorrências (duvidosas?) no Google, como a Exma Dra do Ciberdúvidas parece defender - não, não me refiro aqui ao colega Tomás).

Usemo-la, portanto, o melhor possível e para isso seria excelente que houvessem mais debates destes quando urge redescobrir, atribuir novos significados ou mesmo inventar novos termos para novas realidades. Afinal, a quem vão os falantes de inglês buscar os deles? Vejamos:

hack, >hacker

Etymology: Middle English hakken, from Old English -haccian; akin to Old High German hacchOn to hack, Old English hOc hook

in Merriam Webster Online


E com isto me vou e, se alguém chegou aqui, então o assunto não é tanto para "dar de ombros".

Marina

PS: Então e os "piratas do ar"?? Também têm muito pouco a ver com o roubo...



[Edited at 2006-05-13 22:10]


 
Gabriela Frazao
Gabriela Frazao  Identity Verified
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ok... May 14, 2006

mARuote]Marina Oliveira wrote:

Ivana de Sousa Santos wrote:

...apareceu-nos os termos "chat" que traduzimos por "chat" porque que saibamos ainda não existe o termo definido para tal realidade e é muito utilizado, mas depois discordámos da tradução de "chatter", que eu dizia traduzir-se por "conversar" e a outra tradutora por "chatar" porque já era veiculado. (...)Telefonei a uns primos adolescentes perguntando-lhes o que iam fazer a um chat (não querendo influenciá-los com o termo "conversar" ou "chatar" não os mencionei). As respostas foram, além de "conhecer pessoas", etc., "conversar". Quando perguntei "e chatar, não?", perguntaram-me "cha o quê prima?".

Fiquei contente por os jovens (idades compreendidas entre os 13-16 anos) não utilizarem "chatar". Ao confrontar a outra tradutora com este facto concordámos que iríamos então utilizar "conversar" e assim foi.

No entanto, escrevi para o "Ciberdúvidas" para perguntar a opinião deles (...)

Não concordo com a resposta (...) e estamos assim a tentar impor essa realidade na língua.



Foram muitos os parabéns à resposta da Ivana e não posso deixar de me juntar a eles. À medida que ia lendo este fio (espectacular: vejo que pelo menos "trede" ainda(!) não foi adoptado) ia-se esboçando um comentário na minha mente que entretanto ficou sem efeito, pois a Ivana traduziu por palavras tudo o que pensei sobre o assunto, incluindo o excerto que citei.

Desde que uma estimada colega me apontou a questão no Ciberdúvidas, tenho andado a remoer o"chatar" sem, porém, o conseguir engolir. O Ciber, em prol do qual muitos de nós nos juntámos na petição contra o encerramento, nesta questão desiludiu-me. Havendo uma palavra na nossa língua para "chat" porque não usá-la? "A mensagem que [chatar] veícula não cabe no verbo conversar" dizem eles. Não sei que mensagem será.

A minha "costela" linguística diz-me que a língua deve ser encarada como um sistema vivo e dinâmico, aberto à evolução. Mas o objectivo deste sistema ou código é comunicar e se as regras do código forem sistemática e abusivamente quebradas, o sistema corre o risco de não funcionar e ser até contra-produtivo para a comunicação.

Se bem que compreendo a distinção feita pelo Tomás entre hacker e pirata (no sentido mais antigo do termo), a verdade é que a Ivana pôs o dedo na ferida: o signo é arbitrário, se convencionarmos que "pirata informático" significa "aquele que penetra em redes informáticas sem a devida permissão", qual arrombador da propriedade privada, então "hacker" não tem razão de ser. Pelo menos em português de Portugal ou Europeu. Deverá haver distinção entre a invasão pura e simples e o roubo? Há uns anos, a minha casa foi arrombada. Revolveram algumas gavetas e ficou uma pegada na parede. Até hoje não sei se me roubaram mais alguma coisa, para além de um isqueiro barato. De qualquer forma, com roubo ou sem roubo, este criminoso será sempre um "arrombador". Se é necessário um outro termo para distinguir "invasão" de "roubo" informático, porque não procurá-lo dentro da língua? Além disso, "pirate" existe no inglês, mas eles usam-no para significar roubo informático, fazendo a mesma distinção? Desconheço. Será que temos sempre de traduzir os termos do inglês e não temos liberdade para adoptar outros?

Para finalizar esta já longa prelecção, apesar de o sentido remoto de "pirata/piratear" ser o roubo, o seu uso ligado à informática veícula fundamentalmente a ideia de ilegalidade, como é o caso de "material pirateado", em que não existe roubo propriamente dito, mas a acção ilegal de evasão aos direitos de autor. E é o uso generalizado que transforma a língua (e não uma mão-cheia de ocorrências (duvidosas?) no Google, como a Exma Dra do Ciberdúvidas parece defender - não, não me refiro aqui ao colega Tomás).

Usemo-la, portanto, o melhor possível e para isso seria excelente que houvessem mais debates destes quando urge redescobrir, atribuir novos significados ou mesmo inventar novos termos para novas realidades. Afinal, a quem vão os falantes de inglês buscar os deles? Vejamos:

hack, >hacker

Etymology: Middle English hakken, from Old English -haccian; akin to Old High German hacchOn to hack, Old English hOc hook

in Merriam Webster Online


E com isto me vou e, se alguém chegou aqui, então o assunto não é tanto para "dar de ombros".

Marina

PS: Então e os "piratas do ar"?? Também têm muito pouco a ver com o roubo...



[Edited at 2006-05-13 22:10] [/quote]


 
Mónica Machado
Mónica Machado
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Em Portugal, falar PT ainda se usa ;-) May 14, 2006

Olá Marina e Ivana,

Concordo totalmente com o que dizem e defendem. E apoio que se debata entre colegas de PT europeu formas de traduzir estas novas palavras. É até interessante usar o PROZ para isso.

Claro que sobre o que se usa, ou se deve ou não usar, em PTB... não comento. Acho que cada macaco deve ficar no seu galho, e esta vossa estimada colega que vos aqui escreve é uma macaquinha do galho cá de Portugal que se recusa a meter o bedelho no outro galho.
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Olá Marina e Ivana,

Concordo totalmente com o que dizem e defendem. E apoio que se debata entre colegas de PT europeu formas de traduzir estas novas palavras. É até interessante usar o PROZ para isso.

Claro que sobre o que se usa, ou se deve ou não usar, em PTB... não comento. Acho que cada macaco deve ficar no seu galho, e esta vossa estimada colega que vos aqui escreve é uma macaquinha do galho cá de Portugal que se recusa a meter o bedelho no outro galho.

Cumprimentos e estou por aqui para debater os tais novos termos ou outras coisas que nos unam na profissão.

Mónica Machado
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